Uma professora de história passou uma série de perguntas para os seus alunos fazerem aos indígenas no MUSEU DO ÍNDIO do RIO DE JANEIRO. Uma delas era: “Com o que vocês cortam o cabelo?”. A resposta veio direta: “Com a tesoura”. Esta situação aconteceu em 1999 e ilustra bem como conhecemos pouco sobre os INDÍGENAS BRASILEIROS.
Criado pela fotógrafa associada da Fototech DANI SANDRINI, o projeto fotográfico TERRA TERRENO TERRITÓRIO começou a tomar forma a partir de reflexões que surgiram quando ela descobriu que SÃO PAULO era o quarto município com a maior população INDÍGENA DO BRASIL.
DANI já acompanhava as notícias sobre a situação dos INDÍGENAS BRASILEIROS e a descoberta deste dado do censo de 2010 a fez mergulhar ainda mais no seguinte questionamento: O QUE É SER UM INDÍGENA EM UMA CIDADE GRANDE?
É curioso e trágico o quanto conhecemos pouco sobre os POVOS ORIGINÁRIOS. A história que aprendemos nos livros escolares não é contada a partir do ponto de vista deles. A situação narrada no primeiro parágrafo, embora equivocada, ainda tem o mérito de proporcionar aos alunos a experiência de dialogar com a fonte real, não com uma versão esterotipada e estagnada no tempo.
Em nosso cotidiano, percebemos claramente o quanto a cultura está sempre em transformação. Mas quando se trata dos POVOS INDÍGENAS, em geral, aceitamos sem maiores questionamentos a ideia de que eles continuam iguais ao que eram há cerca de 500 anos.
TERRA TERRENO TERRITÓRIO planta a semente para que as reflexões ocorram. O processo acontece não somente a partir do seu conteúdo, mas da sua forma também.
O projeto fotográfico usa folhas e papel com pigmento de jenipapo como suporte para as imagens e, conforme as obras vão recebendo luz, elas vão se transformando. Assim, a exposição muda desde a sua abertura. A exposição que abre é diferente da que termina. Há uma impermanência nas obras, assim como nas culturas. Em algumas obras, as imagens desaparecem quase por completo durante a mostra, o que dialoga também com o apagamento da história indígena.
Os ciclos são muito presentes na natureza e cada exposição de TERRA TERRENO TERRITÓRIO marca o início de um novo ciclo. A cada ciclo as obras são refeitas, então é preciso encontrar novamente as plantas certas, verificar a previsão do tempo, pois o sol é necessário para fazer as imagens, todo um processo que confere ainda mais alma ao projeto.
Até mesmo as marcas das pinceladas com as quais o pigmento foi transferido para o suporte estão visíveis nas obras. A fotógrafa DANI SANDRINI já estudava o uso dos processos artesanais na fotografia e a harmonia entre os seus conhecimentos e o tema do projeto possibilitaram uma experiência ainda mais enriquecedora ao público.
[Este texto foi feito a partir da visita guiada à exposição que ocorreu no PEQUENO ENCONTRO DA FOTOGRAFIA em setembro de 2020. DANI SANDRINI e outros fotógrafos selecionados falaram sobre os seus projetos que foram expostos de forma virtual durante o festival. Clique aqui para assistir ao vídeo. ]
Escrito por Lili Figueiredo
Imagem: Dani Sandrini